quinta-feira, 20 de junho de 2013

Um dia marcante

"O barulho foi perto da gente!"
"NÃO RECUA! NÃO RECUA!"

Transbordei, chorei e agarrei a mão de uma das minhas amigas. Quem teve a ideia mesmo de estar no meio daquela multidão? Este foi um dia marcante, certamente não foi o último, mas vou guardar pra sempre os sentimentos que me cercaram o dia inteiro por saber que iria participar de algo que é meu e é de todos, é de todos tanto quando meu: o direito de expor, de falar, reivindicar. Agora parece mentira, mas durante a minha adolescência eu acompanhava o aumento das passagens de ônibus ano a ano e me questionava porque ninguém fazia nada... por que eu não fazia nada? Nenhum protesto, nenhuma palavra, simplesmente na primeira ou segunda semana do ano era realizado o reajuste de preço e o máximo que se fazia era reclamar para o cobrador, trabalhador que não podia fazer muito mais que dar de ombros.

Voltando a atualidade, eu vinha acompanhando as manifestações com uma satisfação sem igual. Até que um dia a minha geração resolve sair das redes sociais para fazer algo, dizer algo, ao menos tentar algo.  Saímos da passividades, "acordamos" como é digo por muito, não que eu concorde totalmente com isso, penso que precisamos mobilizar o pessoal para manifestações a fim de agregar, conscientizar e expor as ideias, mas em algum lugar elas precisam ser debatidas, consolidadas, aperfeiçoadas. A crítica pela crítica nunca vale a pena, seja ela nas redes sociais ou em forma de cartazes na chuva, mas isso pode ser assunto para uma outra postagem... Tudo começou em Porto Alegre e hoje tem uma repercussão nacional, internacional... quem diria? Quem imaginaria? Creio que muitos sonhavam e hoje é real. Quando participei a primeira vez de uma mobilização assim foi em uma quinta feira mais chuvosa que esta (sim, acho que a chuva me acompanha quando resolvo participar), quando finalmente a passagem das empresas de ônibus retrocederam, uma vitória, não há como negar! Leiam a postagem do blogue da minha amiga Fabi (fabiexplica), ela descreveu aquele dia em que eu estava junto, sinto-me contemplada com suas palavras.

Hoje, dia 20 de Junho de 2013, como já disse, foi um dia marcante. As manifestações tem tomado novas perspectivas, diferentes temáticas com um grande objetivo: melhorar o país. Que objetivo pretensioso não? Como modificar uma estrutura construída a tantas mãos por um longo período de tempo? Certamente não foi a melhor forma de se construir um sistema, mas é o que nos tem sido apresentado e fico muitíssimo feliz em perceber que a população começou a se movimentar para dizer que não gostou dos resultados e vamos ter que fazer novamente. O valor do transporte público foi só a gota que transbordou o balde da tolerância de outras queixas e angustias que são latentes no nosso cotidiano. Vejo na minha vida a necessidade de buscar mais conhecimento sobre como chegamos até aqui, linhas teóricas que falem sobre modelos de sociedade, episódios históricos que expliquem o Brasil que vemos hoje. Percebo a necessidade de que eu sei que precisamos mudar, mas não sei como, por onde começar... talvez um pouco de passado ajude, talvez não. Quem sabe precisamos pensar em algo que ainda não foi pensado (será que existe?), quem sabe precisamos construir de uma forma que nunca foi construída e então reavaliar os resultados obtidos. 

As redes sociais, em especial o facebook, estão repletas de depoimentos das pessoas que estavam no manifesto hoje. Haviam muitas pessoas, muitas vozes, música, chuva, muita chuva! Cheguei em frente a prefeitura por volta das 17:40 e ficamos lá quase duras horas até começarmos a caminhar subindo a Borges de Medeiros, chegando em casa li que este era um dos três grupos que caminharam em momentos e direções diferentes. Haviam policiais distribuindo folhetos dizendo que o objetivo deles ali era proteger vidas... enfim... não me senti protegida quando já umas 21:00 (não sei precisar) falo a frase que inicia minha postagem. Ao mesmo tempo que fiquei apreensiva com as explosões e a fumaça que surgia lá no fundo eu realmente fiquei nervosa com a resposta de algumas pessoas, com xingamentos e incitando os outros a não recuarem. Muitas pessoas gritavam, inclusive eu: "sem violência!", até sentamos em demonstração de que realmente estávamos ali pacificamente. Tudo em vão, as bombas de "efeito moral" (nome ridículo para esse instrumento horroroso!!!) continuaram a ser lançadas e rapidamente começo a sentir os empurrões de uns e gritos de outros: "mantenham a calma". 

Como manter a calma? Na verdade como chamar calma? Esse era o último sentimento que tive desde que pus meus pés no centro da cidade. Tudo é um misto de sentimentos e quando meu rosto começou a arder e meus olhos já fechados de tantas lágrimas eu me fiz muitas perguntas. Agradeço as amigas que estavam comigo naquele momento, sinceramente eu não saberia o que fazer sem elas, agradeço as pessoas que dividiram suas quantidades de vinagre para que nosso sofrimento fosse menor e pudéssemos encontrar um lugar seguro para parar. Eu não fixei nenhuma parede, não quebrei nada, não roubei nada, mas fui agredida. Muitos que ali estavam não fizeram essas coisas também e foram agredidos e se fomos pensar um pouco mais, não fazemos isso ao longo das nossas vidas e continuamente somos agredidos pela mídia, pelos governantes, por esse sistema que nos consome diariamente. 

Realmente, não dá para conhecer os fatos a partir da mídia. Eles citam levemente que o manifesto é pacífico com pessoas cantando e dá ênfase e mais ênfase para o vandalismo, a depredação, a violência. Por que ninguém veio falar comigo, ou com algum amigo meu? Por que vemos na televisão várias pessoas se posicionando a partir de um ângulo externo, conforme as informações que chegam ate elas? Por que repórter, artistas, políticos e não pessoas "comuns" tem aparecido nas mídias abertas para falar sobre algo que não estão vivendo? Também não sei o que essa gente inconsequente tem na cabeça, por que estar junto para avacalhar (não achei um termo melhor... :P) com tudo, gostaria muito de me encontrar com uma dessas pessoas e perguntar. Se "caminhar" não é suficiente para mudar tampouco destruir as coisas vai surtir um efeito positivo para o que se espera de mudança.

Eu não sou uma perita em argumentação, também não sou uma expert em movimentos sociais e política. Sou uma jovem comum, brasileira, que tenta ser cidadã porque um dia (não tão ditante atrás) descobriu que tinha esse papel e que podia com ele fazer alguma coisa. Tenho muita coisa a aprender mas dentro do que já conheço tento reproduzir algo de bom. Não tenho opinião formada sobre muitas assuntos que atravessam esses acontecimentos no nosso Brasil, mas isso não tira a minha vontade de falar sobre isso, debater, discutir e aumentar o meu desejo de continuar pelas ruas gritando que desse jeito não dá, quantas copas por uma copa? Digo que que eu fui à rua por vinte centavos me referindo ao dinheiro de cada brasileiro que está "sobrando" em tantos investimentos (desnecessário?!) e faltando para uma educação inclusiva; uma saúde decente, aberta e promotora de vida; uma habitação digna e lazer suficiente para todos. Eu fui à rua para dizer que eu não vou continuar parada vendo as coisas acontecerem, leis e decretos etc e tal sendo criados sem que eu esteja junto para construir, opinar; que eu estou cansada de ações verticais que não se preocupam com as demandas da sociedade a qual eu faço parte. 

Estou chocada, perplexa, me sentindo agredida com tudo o que tenho vivido, mas isso não é um peso de desistência mas um estímulo para continuar. Sou só mais uma jovem nesse mar de gente, mas faço o mar ficar maior e isso me preenche.


"Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta."

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