segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Pra não dizer que não falei das fotos

Como não sou uma pessoa objetiva tampouco dada a poesia vou me atrever a escrever um texto sobre foto, mesmo não sendo da comunicação, no intuito de tirar o excesso de palavras contidas em meu interior.

Lembranças são fotografias da vida reveladas na alma, marcas presentes de um passado que, próximo ou não, refletem nas nossas percepções acerca do futuro. Ao olhar para uma pessoa, você está se deparando com um painel de imagens que se revela de formas, tamanhos e organização distintas, únicas, mesmo que seja possível ver semelhanças entre um painel e outro. Lembro do meu primeiro tombo de bicicleta; de quando percebi que sabia escrever e, quando descobri minha paixão por escrever aleatoriedades. Assim como existem muitas fotografias no meu painel, encontro muitos espaços em branco, esperando para serem preenchidos, também, existem aquelas fotos que podem ser realocadas para otimizar os espaços. 

Fecho os olhos e resgato lugares, pessoas e conversas que despertaram novos sentimentos e desejos nos planos que eu traçava para minha vida, nesse sentido, destaco o desenvolvimento da minha espiritualidade, os princípios e valores que constroem minha fé e são a base para minhas decisões. Essa cosmovisão permitiu que eu “descolasse” meus olhos da minha própria vida e das fotos que eu ainda queria tirar, para olhar o mundo e compreender que as minhas ações também eram fotos que se revelavam por ai, deixando marcas em painéis alheios, despertando desejos e vontades em outras histórias. Que frio na barriga! Que loucura pensar nisso, e as lacunas que antes queria preencher apenas comigo e os meus sonhos, comecei a querer revelar com os resultados dos encontros com outros, então as lembranças não são mais somente minhas, mas de muita gente, sou eu no outro e o outro em mim.

Nem todas as lembranças formam boas fotografias, algumas até eu preferia nem ter tirado. Há inúmeros motivos para que esses registros não sejam tão agradáveis quanto quiséssemos que fossem, dentre as razões, se existe uma verdade sobre fotografia, é que nunca se faz sozinha. Ela só se constitui a partir de um observador para um objeto observado, então, mesmo quando só está você no quadro da lente, esse registro depende, minimamente, de um cenário e quem o registre.

Prolongar-me-ia mais falando das boas lembranças que tenho nesses meus curtos dias de vida, de fato, elas são muito importantes pra mim e me ajudam a buscar novas vivências. Entretanto, quero aqui, de alguma forma, encontrar uma explicação lógica, coerente ou sensata para o que vivi com alguns colegas na quinta-feira do dia 14 de Dezembro do ano de 2013. Certamente, esse fim de tarde não foi um cenário em que pensei em registrar algum tipo de lembrança. Ainda tento encontrar lógica para tudo o que aconteceu. Faixas, bandeiras, um megafone e não mais que 70 pessoas formavam o grupo de estudantes no ato contra ações verticais da instituição de ensino o qual fazemos parte.


Uma coisa que não falei sobre as fotos é que cada uma é carregada de uma história, muitas vezes bem mas antiga que os atores que a formam. Falo isso porque quando olhamos o ato da quinta-feira precisamos olhá-lo como uma ação dentro de quatorze dias de ocupação de uma reitoria, que está dentro do inconformismo de estudantes que não se sentem parte integrante de um espaço que é deles, a universidade, que está dentro de uma forma de pensar sobre educação e como se dá o seu desenvolvimento. Não tem como dissociar essas diversas fotografias, que foram se desenvolvendo na realidade dos diversos indivíduos que estavam ou não presentes nos registros de quinta-feira.


A maneira mais fácil e superficial de explicar isso é dizer que a insatisfação desse estudantes pode ser resolvida indo para outra universidade, ou questionando a presença de alunos bolsistas dentro da manifestação, ou que existiriam outras possibilidades de ações a serem tomadas sem conhecer a história do fato e/ou sem citar essas outras possibilidades a serem feitas. A forma mais fácil e superficial de lidar com algo que incomoda é ignorar ou excluir, rasurar, tentar apagar, quem sabe reprimir. Vamos esquecer todo o contexto, todas as motivações e reflexões acerca da mercantilização da educação, do investimento em instituições privadas para suprir uma demanda que devia ser garantida pelo Estado, das burocracias que dificultam e inviabilizam processos criativos que poderiam potencializar ainda mais as ações de um espaço de aprendizagem como uma universidade. Esqueçamos de tudo isso e fixemos nossos olhos para um muro pixado, o que, segundo os escritos nos jornais eletrônicos, justificou ação violenta do Pelotão de Operações Especiais – POE sob estudantes na Avenida Unisinos. Armas de fogo, cassetetes, bombas e balas (seja elas quais forem), insultos, empurrões, gritos foram as respostas mais altas que a ocupação ouviu até agora.

Existe lógica nisso? Existe alguma explicação para todo esse descaso, para o silêncio ou para a(s) resposta(s) vazias? Por mais que eu tente, não consigo, é incompreensível pra mim. Tentam encontrar paradoxos para essa movimentação estudantil. A meu ver, paradoxal é essa posição demagoga de uma instituição de ensino que preza pelo desenvolvimento integral crítico e reflexivo do ser humano. Paradoxal é a afirmação de que sou infinitas possibilidades, desde que dentro de um circo de burocracias e informações mascaradas.

Fisicamente, fui a menos agredida do grupo de estudantes que estava no ato. Há quatro dias desse momento horrível, as dores já não fazem mais parte de mim. O que permanece são as lembranças, marcas que não gostaria de carregar mas que vão permanecer. Marcas que quando feitas queriam silenciar, todavia de forma alguma vão alcançar tal objetivo. Essa certeza eu tenho porque minha voz não está sozinha, antes de mim já se ouvia e após também a fala de cidadania, educação e coletividade. Que comunitário é o produto de uma produção comum a muitos e isso só é possível se muitos fizerem parte da construção. Bom, mas esta foi mais uma foto no meu painel, que venham outras, melhores, espero eu.

"Caminhando e cantando 
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção"
[Geraldo Vandré]

sábado, 2 de novembro de 2013

O que você ganha com isso?

E ai galeraaaaaa!
Que saudades desse espaço, que saudade de escrever, que saudades disso aqui! Coisas para contar é o que não faltam, muitas borbulhas de experiências vividas, encontro com pessoas, sentimentos, reflexões. Espero conseguir por em dias todas as ideias de texto que tive pra cá, fui impedida pela falta de tempo e em alguns momentos internet mesmo... heheheh
 
De qualquer forma, agora não quero recuperar as postagens atrasadas. Quero responder a pergunta que me foi feita hoje, mas não somente hoje e não somente por uma pessoa. "O que você ganha com isso?", com isso o quê? Hoje o Elos completa um ano de existência. Para quem não sabe, Elos é o coletivo estudantil em saúde o qual faço parte. Um coletivo é um grupo (que pode ser grande ou pequeno) de pessoas criado pelas possíveis afinidades de quem o forma em realizar atividades para um bem próprio ou de outrem. No nosso caso buscamos maneiras de aperfeiçoar a formação acadêmica para o Sistema Único de Saúde - SUS, entendendo-o como um política pública que garante um direito social a população brasileira, direito este que deve(ia) ser distribuído de forma PÚBLICA e de qualidade. Bom, muito pano pra manga só nessa pequena frase onde tentei sintetizar o que somos ou tentamos ser há um pouco mais de 365 dias. Não estou ficando maluca, tenho a plena consciência de que um ano é formado por 365 dias, com uma variação de um dia para mais quando é ano bissexto. Quando me refiro que completamos um ano mas somos ou tentamos ser algo há um pouco mais dessa quantia de dias é porque mesmo não sabendo que Elos éramos, no mês de Agosto do ano passado já assim nos comportávamos, mas somente em Novembro que "a ficha caiu" e nos encontramos com uma identidade coletiva.
 
Passando esta breve introdução eu volta ao ponto da questão: o que ganho sendo Elos? Se você esteja esperando que a resposta seja dinheiro, está enganado, não é esta a resposta, tampouco ela se materializa por algum bem material que eu possa mostrar a vocês.
 
São tantas borbulhas que algumas ideias acabam sublimando, sobram palavras para falar dessa construção que se formou e tem se formado a partir de uma matéria prima muito resistência e ao mesmo tempo volátil: a motivação. E uma matéria prima tão complexa como esta gera frutos magníficos de esperança e convicção. Se tem uma coisa que eu ganho por fazer parte dessa história é esperança de um futuro melhor, mesmo que nele eu não viva, ainda sim dele faço parte porque já estou ajudando na sua realização. Esperança de que estou em um movimento que mesmo em situações conflitantes não deixa de vibrar e mostrar de alguma forma que existe sempre novas ideias para serem postas em prática. Convicção de que não é um caminho tranquilo de ser seguido, que existem muitos obstáculos, desejos, vontades, interesses contrários a tudo o que se propõe nesse contexto, porém, vale a pena seguir caminhando porque antes outros já iniciaram seus passos e eu não sou só nesse trajeto, são muito mais que dois pés nesse caminho.
 
Inquietações, dúvidas, desconstruções pessoais são outros elementos que vieram junto com a parte de trabalhar em grupo, ser flexível, aberta e disponível. Mesmo assim, vale a pena! Vale a pensa continuar a pensar em objetivos, traçar metas para alcança-los; chorar por não ter recursos e um segundo depois perceber que afinal, eles não fazem tanta falta assim. Vale a pena vivenciar um projeto executado e um sorriso encontrando outro choro, dessa vez despreocupado porque o devia ter sido feito de fato foi. Vale a pena inventar histórias, sonhar maluquices e brincar com conceitos recém descobertos, tentando trazer sentido a uma realidade que muitas vezes é dura, inflexível e torturante. O que eu ganho com tudo isso? Humanidade, muita humanidade! É uma cascata de vida que se derrama a cada esquina, bairro ou cidade; a cada encontro seja em no Rio Grande do Sul ou no Amazonas, seja dentro de mim ou em um grande congresso.
 
São reflexões que impulsionam ações que por sua vez, demandam mais reflexões. São dinâmica que exigem de mim mais escuta que fala e mais sentimento mais que lógica. Essas contradições não permitem que eu abra mão da emoção assim como também da razão, quando uma se perde meus sentidos ficam vazios e minhas ações sem significados. Sinto-me presenteada com todas as pessoas que conheci, as aprendizagens que fiz e as vivências que experienciei. Sinto-me presenteada com o sentimento de dever cumprido que contagia meu fazer a cada sábado, feriado ou madrugada. Pelos silêncios que me entenderam, pelas críticas que me redefiniram, pelos abraçados que me fortaleceram e pelos sonham que foram investidos eu me sinto uma pessoa totalmente disposta a viver novos episódios dessa série que eu não quero que tenha fim. Como diz uma "famosa" canção: "Vem trilhar outro caminho, é claro que não está sozinho, sempre há alguém pra ajudar... lalaiá..."
 
Espero não ter sido muito subjetiva em minhas palavras, ou se sim, espero que elas preencham cada um que sabe que faz parte alguma parte desse quebra cabeça da vida. Feliz Aniversário para todos que DIRETAMENTE, sempre é diretamente não importa a distância ou a intensidade, me afetaram e por mim foram afetados. Parabéns a cada elo que se uniu nesse ano e que se Deus quiser vão continuar unidos por muito mais anos.
 
Siiiiiiiim, agradeço a Deus por ter a oportunidade de viver esses momentos que me constituem de uma forma única que as vezes me espanta e outras me silencia. Certamente, eu, Bruna, não teria vivido nada disso se não tivesse fé, em Deus, na vida e nas pessoas, é a seiva que me mantém viva para contribuir nessa grande construção.
 
 
 
P.S: qualquer erro ortográfico ou gramatical será corrigido posteriormente após uma leitura fora do efeito da madrugada... hehehe

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

As cores das flores


Esse final de semana conheci um vídeo lindo! Sim, ultimamente estou usando muito ferramentas áudio visuais para complementar minhas postagens, normalmente não gosto de fazer isso, todavia a correria da minha rotina não me permite dispor de um tempo maior para poder falar tudo o que eu gostaria acerca dessa nossa vida.

O nome do vídeo é "As cores das flores":


Se tem uma ideia que faz parte de todo o vídeo é sensibilidade. Não sei se este é um dom potencializado nas pessoas com alguma perda em um dos sentidos, mas o menino do vídeo expressa bem essa capacidade de produzir a partir de algo que tenha um significado pessoal.

O que me faz pensar qual a minha percepção sobre as coisas que me cercam e não somente isso, mas a forma como eu espero que outras pessoas percebam as circunstâncias que se apresentam. Será que a professora deu-se conta do tema que deu aos alunos? Será que realmente ela estava esperando contemplar todos os alunos com a sua pergunta? 

Fiquei me questionando se essa seria uma história verídica, se for realmente me alegro, caso contrário permanece a dúvida de como seria a repercussão desse fato em uma escola não cinematográfica? Outra parte do vídeo que me chama atenção foi o colega de Diego que quer dizer as cores das flores para ele, como se aquela explicação pudesse produzir algum sentido. Claro, havia um sentido para ele, mas que não ia ao encontro das especificidades de Diego. 

Quantos são os assuntos que passam pela nossa mente todos os dias e ao tentarmos explicá-los e compartilharmos acabamos falando dialetos a quem recebe nossa mensagem. Outros são os momentos em que queremos produzir um sentido, um significado que foi gerado a partir da nossa percepção, uma relação dependente dos fatores que nos constituem como serem pensantes, o que difere de uma pessoa para outra. 

Agregar os diversos conhecimentos que se mostram todos os dias é uma tarefa complicada mas bem possível e encontrar espaços onde se possa compartilhar essas ideias, as vezes malucas sob o ponto de vista de uma maioria, incentiva a busca cada vez maior de ideias e conceitos ligantes entre si. Afinal, assim como existe um passarinho para cada cor de flor, existem muitas outras relações a serem observadas e constatadas, basta estarmos com os olhos (da mente) abertos e sensíveis. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Motivações Utópicas

Feriadinho chuvoso na capital gaúcha, hoje no Rio Grande comemora-se a Revolução Farroupilha, uma história que muito foi abordada na minha 5 e 6ª série, que envolve grande parte da população desse Estado. Bom, os fatos históricos estão ai para serem analisados, e alguns dizem não ter havido revolução alguma, outros descartam essa hipótese; alguns endeusam as façanhas gaudérias, outros abominam todo esse esteriótipo heroico; Ilusão ou não, o fato é que muitos estão no parque Harmonia, tomando um chimarrão e comendo um bom churrasco para se alegrar por ser gaúcho. 

Quanto a mim, estou aqui a fazer devaneios.


Ganhei um livro esta semana, "Memórias da Saúde da Família no Brasil", elaborado pelo Ministério da Saúde no ano de 2010, resgata a história dessa estratégia que vem contribuindo para a ampliação do acesso à saúde aos brasileiros, sendo bem simplista na minha explicação sobre ela. Como o ganhei a pouquíssimos dias, ainda não finalizei a leitura que é composta por vários atores que ajudaram na formulação desse modelo de saúde. O livro é lindo, com fotos e uma diagramação gostosa de ler, principalmente em dias convidativos para o sono como este! Recomendo que muito, segue o link em pdf aqui

Confesso, que por mais feliz que tenha ficado em ter recebido este livro, não posso negar que algo muito forte fez-me parar a leitura. Isso não quer dizer que não vou terminá-lo, só, foi uma constatação que me fez pensar, pensar, pensar... e tudo o que eu penso demais acaba transbordando aqui, é inevitável! Entre os ministros da saúde, médicos, enfermeiras e demais pessoas que participaram dessas construções, não percebi o nome de nenhum agente comunitário de saúde, nenhum usuário que tenha recebido um atendimento, nenhuma pessoa "comum" que assim como os demais tem um papel fundamental na consolidação da Estratégia de Saúde da Família. Li os dois primeiros relatos e a curiosidade me fez buscar todos os mencionados a fim de encontrar uma referência a tais pessoas, não encontrei nada, como falar da Saúde da Família, sem a família? Percebi uma participação passiva através das fotos, mas isso não satisfaz o meu desejo de ouvir, ler , sentir a percepção desses sujeitos.

Há algumas semana atrás estava eu na mesma situação de hoje, lendo e fazendo coisas aleatórias que não estudar as disciplinas da faculdade. Devorei um pequeno livro da trajetória de uma líder comunitária chamada Rosalina Batista, no livro "Sou Cidadã" de Walter Ogana (não encontrei o livro em pdf, mas tem o blog do autor). "Nenhum caminho é uma estrada certa e reta para algum lugar. Os desvios são possíveis para o bem e para o mal. Os contornos aparecem sem avisos. A volta nem sempre é a pior possibilidade. Mas ir, cuidando-se para não plantar com força os pontos dos pés calejados no passado, é a alternativa de quem enxerga os desafios como um projeto de vida. [...] A certeza de que é possível ser cidadã apesar de todas as dificuldades que se colocam no caminho. [...] A simples organização das pessoas para o debate de suas aspirações já deixa saldos positivos quando a democracia torna importante todas as palavras e todos os pensamentos."

Não quero ser insipiente em minhas colocações, tampouco quero desmerecer um registro tão importante quando o livro das Memórias, mas é difícil pra mim não tentar unir de alguma forma essas ideias, é como se a dona Rosalina estivesse completando a outra obra, com suas ações. E não somente ela, como tantos cidadãos que não tem a oportunidade de ter suas vivencias registradas em um livro.

Expectativas... motivações... utopias. Acho que vou parar por aqui, pelo menos por enquanto, deixo que o Leonardo conclua essa postagem por mim. :)


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Suspeitas...


"Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor."
Henry Thoreau

"Vocês riem de mim por eu ser diferente, e eu rio de vocês por serem todos iguais."
Bob Marley


Eu suspeitava que não era daqui, quando vi essa animação tive a explicação que me faltava... hehehe... brincadeiras a parte, quem nunca se sentiu meio ET na vida? Ninguém é tão normal que nunca tenha feito uma esquisitice ao mesmo tempo que ninguém é tão "sem noção" que nunca teve um sonho "comum" a maioria das pessoas que o cercam. A verdade é que por mais diferentes que possamos ser, sempre há aqueles que se parecem conosco e isso faz com que novamente entremos em um cenário de "normalidade" pré estabelecida pela valência das relação que se constituem.

Sinto-me meio contraditória; senão contraditória, no mínimo, confusa... a verdade é que só queria compartilhar o vídeo e ficar pensando nas minhas suspeitas internas de ser ou não uma ex ET...  


sábado, 31 de agosto de 2013

Nutrição, sua linda! - Uma escolha


Hoje é dia do profissional nutricionista!

Entrei sem querer e quando vi não havia mais volta, a nutrição me fisgou de uma forma que não consigo explicar muito bem. Jornalismo, Letras e Moda eram cursos que estavam anos luz na frente de Nutrição, de qualquer forma, minha mãe sempre disse que não pagaria minha faculdade, que eu precisava ter uma profissão e depois poderia fazer o que quisesse. Entrei na escola técnica, no curso que "aparentemente", me deixaria o mais distante de gente doente e sangue, entrei na escola técnica porque precisava de dinheiro para entrar na faculdade, entrei na escola técnica querendo sair logo de lá! 

Depois de três anos de estudo, eu sai do curso técnico em nutrição e a nutrição não saiu de mim, então, fui em busca de um espaço maior onde pudesse aprender mais sobre tudo aquilo que eu não queria no início. Dos 30 colegas que iniciaram comigo o técnico em nutrição, hoje, somente eu sigo na área, vai entender essa vida?!

Eu não tenho muito o que dizer. A Nutrição brinca comigo, porque é um quebra cabeça que pode ser montado de várias formas diferentes com as mesmas peças, tenho certeza que ainda não são conhecidas todas as peças e possibilidades de combinações a serem feitas. Tenho perpassado por algumas áreas dela, batendo em algumas portas, vivenciando alguns lugares, as vezes me acho, outras vezes me perco. Muitas vezes dá um frio na barriga em pensar que daqui a um ano estarei pegando meu diploma e efetivamente vou poder dizer que sou uma nutricionista, sério, não me sinto preparada! Quantos conhecimentos já passaram por mim ao longo desses semestres, alguns entendi, absorvi, outros desprezei, esqueci, muitos estão bem presentes no meu dia a dia, tem aqueles que tenho que correr atrás do esquecimento, fora os que não estão no currículo e eu venho buscando.  

Indivíduo - Alimento - Ambiente, uma tríade complexa, cheia de complementos que vão desde a molécula ATP de uma mitocôndria até o efeito ecológico das monoculturas alimentares nos latifúndios do mundo e o que todo esse fluxo de informação interfere no meu organismo e no organismo do mundo. Porque comer não é um ato apenas fisiológico e alimento não é só uma massa formada por nutrientes, em tudo isso há muita dinâmica, muita vida! 

Pra mim, a nutrição tem a prevenção na sua essência e a saúde como um fruto natural do seu desenvolver. Pra mim, a nutrição é encantadora, mesmo que inúmeras vezes eu me sinta "descaracterizada" das demais pessoas pensantes que compõem esse nicho social. 


Porque nutricionista é aquela que sabe cozinhar, tem a tabela de composição química de alimentos na ponta da língua e consegue lhe fornecer uma dieta milagrosa que faz perder 20 quilos em 7 dias! Porque nutricionista é aquela que te recebe em um consultório branco com poltronas verdes. Porque lugar de nutricionista é no hospital calculando dietas... JURA! Não se engane, não se engesse, a nutrição é mais do que um senso comum/distorcido(?) refletido no imaginário geral.

Sobram fotos que registraram as experiências que tenho experimentado por ter feito esta escolha. Faltam palavras para descrever o quão realizada eu fico ao me dar conta do quanto já aprendi, das trocas que já fiz e de tudo que ainda posso concretizar com esses conhecimentos. Teorias que ganham significado na realidade da vida, políticas que se desmontam frente aos imensas demandas sociais que reafirmam a importância da minha profissão, cada vez mais humana, cada vez mais cidadã.

Gostaria de agradecer a todas as professoras (e professores né?), colegas, amigxs, parentes, conhecidxs e assemelhadxs que de uma forma ou outra me fazem querer continuar nessa escolha de promover saúde através do alimento. A cada porta que me foi aberta para descobri uma face nova da nutrição que tem encantado meus olhos e confirmado a ideia de que estou no caminho certo. 


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Abraços possíveis.

Se tem uma coisa gratuita que gosto tanto quanto escrever ou falar é dar abraço, tem coisa melhor?! Abraço pra mim é uma atitude especialmente especial, me permitam a redundância nesse caso já que esse ato realmente essencial devem ser tratado como tal. ;)

Abraços envolvem, acolhem, confortam, relaxam, tranquilizam e revigoram a alma da gente. Pode ser apertado como de urso, alegre como o de um amigo ou sempre disponível como os da minha mãe, pode ser tímido, pode ser rápido, pode ser coletivo (quem conhece canta: "abraço coletivo, abraço coletivo")!!!!! O que cabe em um abraço? Euforia de um reencontro; saudades de uma despedida, paixão de um amor e amor de uma paixão... em um abraço cabem todas as risadas e gritos do mundo ao mesmo tempo que todo o silêncio que lábios são capazes de dar. Um momento onde não há perda, todos ganham com um bom abraço! Eu já dei muitos abraços, de diversas forma nas mais variadas situações, poderia fechar os olhos agora e relembrar dos bons momentos que já tive dentro dentro de um abraços!

Pensando sobre isso e na minha pré disposição para abraçar eu percebo um abraço que muitas vezes penso e até tento dar mas não consigo: no mundo. E não pensem no mundo, Terra, "imensa" (depende do ponto de vista né?) bola azul no cosmos, pensem em dimensões menores desse mundo, mesmo essas eu não consigo envolver com meus braços. Sim, de fato isso é uma verdade consumada, que inúmeras pessoas me falam todos os dias e que de certa forma eu já internalizei. Mas dizer que entendo algo não significa que eu concorde e por vezes a minha teimosia brunistica me impulsiona a tentar mais uma vezinha que seja realizar tal feito. AAAAAAHHHHHH, quantas vezes eu tenho vontade de gritar por não conseguir isso!

Me ocorre que por melhores que sejam minhas intensões para com esse(s) mundo(s) ele é coletivo demais para se deixar ser envolvido por apenas um par de mãos. Certamente ele quer (e precisa) das minhas mãos, não por serem minhas, mas porque constituem um encontro que gera uma reação onde, no meu caso, espero que seja uma boa reação. Não importa qual seja a dimensão de mundo existente, ele mais do que ninguém gosta de um bom abraço, desde que seja bem coletivo, que tenha a cara de muitos ao mesmo tempo que tem uma cara só, ao mesmo tempo que tem muitas mãos gera uma única sensação: cuidado/empatia.

Não tenha medo, abrace!
Não pense duas vezes, abrace!
Se não puder sozinho, olhe para o lado e dê a mão ao(s) próximo(s)...
Incentive outros a abraçar tanto quanto você!

Abrace não só as coisas boas e felizes, abrace os tristes, os esquecidos, amargurados, desprotegidos. Penso que muitos destes são potenciais abraçadores a outros, mas não sabem o valor dos seus braços e o calor dos seus sentimentos. Abrace a fome com alimentos e o frio com agasalhos; abrace o impossível com ações possíveis que gerem vida capaz de produzir outras formas de abraçar.

Abraços não são eternos, mas por onde ocorrem deixam marcas de afeto e fazem toda a diferença! Abraços são possíveis.


"Os abraços foram feitos para expressar o que as palavras deixam a desejar."

Anne Frank



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A origem borbulhante!

Oi gente!

É com muito prazer que eu vos apresento o senhor Carlos Roberto, Thomaz, para os conhecidos, pai, no meu caso. :) O culpado de a minha cabeça borbulhar por uma pena que cai no chão é esse cara que desde que eu me conheço por gente me incentiva a ser um ser pensante. Falando a verdade, se vocês acham que eu viajo em alguns momentos é porque vocês nunca conversaram com o meu pai para saber suas teorias filosóficas sobre o mundo.

Muitas noites quando eu era criança ia dormir tarde por ficar inventando histórias em conjunto com ele. "Era uma vez um macaco amarelo... onde ele estava?" Uma cena mais louca que a outra, um personagem mais diferente que o outro, acho que nunca chegamos ao final de uma história, eu dormia antes, mas era sempre legal pensar na última para iniciar a seguinte. Meu irmão, pai e eu tínhamos cada um o seu caderno de desenho e a cada final de semana tinha um tema novo para colorir as páginas em branco, nunca fui boa em desenho, por isso eu sempre fazia quadros "abstratos" e queria sempre que escolhessem o meu desenho como o mais bonito mesmo que ninguém o entendesse.

Domingos pela manhã você certamente nos encontraria na cancha de esportes da praça jogando basquete, vôlei e o que mais a imaginação quisesse, fiz inúmeros amigos de final de semana em função dessas partidas matutinas. Depois, era chegar em casa, tomar banho e almoçar já que após a refeição vinha outra parte legal do Domingo, brigar para não dormir a tarde, era uma luta acirrada entre pai e filhos, nós querendo impedir que ele dormisse para continuar fazendo qualquer coisa conosco e ele por sua vez, com  desejo louco pela sua "cesta". Nessa batalha valia tudo, travesseiro na cara, chinelo no traseiro e empurra-empurra pelo apartamento, lógico, sempre perdíamos para a soneca da tarde...

Essa figurinha foi a pessoa que em um mesmo dia levou-me para assistir o desenho "O Rei Leão" e quando chegamos em casa me mostrou o documentário "Vida Selvagem - savana africana" para eu conhecer as verdades da vida animal. Detalhe, eu tinha entre 4 e 5 anos e sai da sessão de cinema achando que a natureza era linda e todos os animais eram amiguinhos e comiam capim... [heheheheh...]

Quantos projetos para o futuro: ter um conjunto de cuia e bomba de ouro para tomar o melhor chimarrão; andar em um carro super moderno e rápido da cor marrom; ter uma fazenda com 95 hectares para poder construir um lugar só nosso com cavalos, lagos para pescar e amoreiras para fazer as mais variadas sobremesas gostosas. Colecionador de filmes em VHS, se você tiver um bom título esquecido em alguma gaveta não pense duas vezes, entre em contato para presenteá-lo! 

Meu pai é um grande homem, lava, cozinha, é eletricista, conserta máquinas de costura, pinta, desenha, canta, escreve, filosofa... meu pai conta várias vezes a mesma história, sempre com a mesma intensidade que da primeira vez. Meu pai escuta todas as minhas peripécias cheias de detalhes, sonha comigo meus projetos e na medida que consegue me acompanha não importa o lugar, Ilha das Flores ou Osório.



Ele sempre diz que eu não posso parar, ao mesmo tempo que sempre fala que eu preciso descansar porque nunca paro de agitar! Eu fico braba com ele, grito esperneio e ele nem as horas me dá, ainda vem com um sorrisinho manso e pergunta "deu?"... Muitas vezes um amigo, outras um irmão mais velho que rouba meus chocolates da páscoa e leva minha pasta de dente com ele. Com tudo isso ele não deixa de ser o meu papito querido, que me dá segurança e aperta minha mão sempre, eu precisando ou não.

Esse foi o primeiro ano em que eu não comprei nada para lhe dar no domingo dos pais. Parei para pensar que de alguma forma todos os dias a gente se presenteia, com afeto e companheirismo, solidariedade e dedicação. Tive uma infância supimpa com o seu Thomaz, assim como a adolescência e agora que sou uma adulta jovem (será mesmo?! heheheh) eu me alegro muito em ter esse cara do meu lado. Meu pai acredita que eu posso mudar o mundo, acho que é porque ele sabe que muda o meu a cada dia. :)   

sábado, 17 de agosto de 2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Uma pitada de fé

Evangélica.

Já vi diversas reações após dar essa resposta desde "ah eu já suspeitava" até "nossa, tu? tão globalizada...". Divergências a parte uma coisa é fato: reconheço que existe muito preconceito das pessoas que assim se denominam e de certa forma é um caminho de mão dupla com relação aqueles que assim não se denominam. Infelizmente, vivemos em um mundo de esteriótipos e esses fazem as pessoas terem ações, sejam elas externadas ou não, ridículas muitas (todas as) vezes. 

Eu não sou do tipo de pessoa que quer empurrar Jesus goela abaixo de ninguém, "simplesmente" por dois motivos: 
1) Cada um tem o direito de ter a fé que quiser, em quem/como quiser; 
2) Jesus, seu exemplo e tudo que esse nome representa é precioso demais para mim, foi uma construção que venho fazendo há algum tempo e tem feito toda a diferença na minha vida, até hoje, esse caminho vem sendo muito produtivo/proveitoso. Muito das minhas aprendizagens estão registradas no meu antigo blog, Verdadeira Essência, pra quem quiser dar uma olhadinha. 

Quem é Deus? O que é Deus? O que Ele faz ou deixa de fazer, o que me faz crer?
Muitas perguntas em uma única linha, com respostas imensas. Quantas linhas são necessárias para sanar essas dúvidas? A humanidade vem escrito linhas e mais linhas que definem, categoram ou induzem a uma verdade convincente. Não, eu não pretendo respondê-las, sinto-me muitíssimo pequena para tal, mas posso pensar, meditar conjecturar, sem que minhas palavras sejam absolutas.

Perspectiva, penso que muitas coisas se explicam por ai, o pensamento de um indivíduo se dá através de seu posicionamento em relação ao que ou a quem se observa. Quais são as perspectivas que espelham nossas expressões todos os dias? Qual o tamanho da sua fé, se é que você tem alguma... o quanto ela é útil para você ou sua realidade? Ela precisa ser útil para alguém? Parafraseando a música "Comida" da banda Titãs eu continuo questionando: "você tem fé de quê? você acredita no quê? [...] a gente não quer só fé, a gente quer fé e...". Em uma época onde esse conceito tem sido banalizado, vale a pena pensar essas questões. 

A minha fé não é algo que me estereotipa. A minha fé não se explica com métodos científicos, quem sabe um dia... a minha fé é relacionamento. Relacionamento com Deus, Jesus, Espírito Santo, um em três, três em um... eu não sei explicar, justificar, fundamentar, eu sei o que sinto e vivo e o que aprendo através de um livro que verdadeiro ou não está há mais de 2 mil anos circulando por ai. Eu acredito em um relacionamento com o Criador e a criação, um relacionamento sincero e íntimo que respeita/preserva/cultiva esses espaços. Eu não creio em Deus para ter um carro, casa, dinheiro... eu não creio em Deus para casar ou saciar minhas ansiedades. Eu acredito em Deus porque eu acredito no amor e Deus é amor.

Eu vejo Deus em muitas coisas, as vezes não sou bem compreendida por essas impressões, dentro ou fora desse contexto. As vezes isso me choca, paralisa, desconstrói, mas de alguma forma me expande e reafirma a loucura da fé. 

Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. [Marcos 12:30-31]

A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo. [Tiago 1:27]

Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? [Isaías 58:5-7]

Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. [Tiago 2:14-18]

E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. [Atos 4:32]

Sem dúvida eu poderia colocar muitos versículos por aqui. Versículos que respondem no que creio e qual é a sede da minha fé. Uma pincelada disso é o que me move a estar inserida nos espaços onde eu estou, a estar cursando o curso que eu estou, a fazer algumas escolhas, a ter alguns sonhos, esperanças. Sonho que não são só pra mim, sonhos que não são só meus, as vezes eu penso que pouco de tudo o que eu faço realmente é pra mim, mas essa é uma outra reflexão para um outro momento com todos os meus erros e defeitos vou tentando acertar. 

Escrevo isso porque tenho procurado acima de tudo respeitar o meu próximo seja como ele for, com sua fé ou ausência dela, eu me vejo aberta para ouvir e aprender sem prejulgamentos, de forma respeitosa. É impossível manter uma neutralidade, quem é neutro? Tenho minhas concepções, minha cosmovisão de mundo e esta é semelhante ou muito diferente a outras espalhas por ai. Como procuro não ser desrespeitosa com ninguém nesse sentido, peço perdão se em alguma situação assim agi, mas confesso que em muitos momentos, me entristeço por ouvir comentários em relação ao que creio e vivo. Em muitos momentos parece que o errado é crer em algo e que qualquer fala com base nisso é desconsiderada, insuficiente, não válida. Talvez só eu me sinta assim, talvez não... talvez em muitos assuntos eu considere que o silêncio é a melhor saída, talvez não. Acredito que essa reflexão também é válida, não é tudo o que dizem ser cristão de fato o é e não são todos que se dizem cristão que assim vivem, CERTAMENTE, eu não sou a perfeita mocinha do Brasil, no mínimo, tento viver o que falo, como Tiago concluiu: mostrar minha fé com minhas obras. 

Bom, essas últimas palavras transformam-se em um pedido, quase que em uma oração por parcimônia em palavras e ações coletivas, não faz mal a ninguém e permite que todos vivamos tranquilos, cada um no seu caminho com liberdade de transitar, conhecer e absorver o que melhor lhe parecer. 

Graça e Paz a todos! o/

sábado, 10 de agosto de 2013

Águas de interdisciplinaridade...


Eu estava super ansiosa para chegar em casa hoje! Minha semana começou com atropelos que me paralisaram (amigas obrigada pela força! S2)... seguiram os dias e tive felizes surpresas que me fazem estar radiante nessa sexta feira chuvosa em Porto Alegre! Esse semestre iniciou como se fosse ano novo, estou com a sensação de novos ares, novas possibilidades de conquistas, meu coração está esperançoso e de certa forma isso é legal, mesmo que eu não saiba bem explicar o porquê estar sentindo isso.

Um fator que me deixou muito satisfeita nesse retorno às aulas foram as disciplinas escolhidas para este semestre. É compreensível para algumas pessoas pensar em uma acadêmica de nutrição cursando alguma disciplina da psicologia como disciplina optativa (em outras instituições podem chamar de disciplinas eletivas ou não obrigatórias...) afinal, são dois cursos com o pé na saúde e que em alguns momentos se cruzam, andam junto etc e tal. Mas definitivamente as pessoas pesam que sou, no mínimo, maluca por cursar disciplinas do Serviço Social e Jornalismo. Curioso observar a reação das pessoas no momento das apresentações na turma em ver alguém de uma área aparentemente desconexa da sua como colega. "Essa disciplina é indispensável para um bom psicólogo!", "Nutrição, aqui? O que faz aqui no jornal, amiga?", "Todos aqui são futuros assistentes sociais, correto?", "mas... o que isso tem a ver com nutrição?" foram frases que ouvi ao longo da semana, frases que comprovam ou a minha insensatez ou a multiplicidade do ser que vos escreve.

Mul-ti-dis-ci-pli-na-ri-da-de, multidisciplinaridade, que palavrão! Segundo o Dicionário Interativo da Educação, esse termo significa: "conjunto de disciplinas a serem trabalhadas simultaneamente, sem fazer aparecer as relações que possam existir entre elas, destinando-se a um sistema de um só nível e de objetivos únicos, sem nenhuma cooperação.". Confesso que essa palavra não é suficiente para me descrever, já que podemos pensar que existem muitas coisas "multi" que nos cercam: um ônibus cheio de gente é multi, os currículos acadêmicos/escolares são multi, um shopping é multi, a bolsa de uma mulher é multi, dependendo da bolsa põe multi nisso! É fácil colocar várias coisas diferentes em um mesmo lugar, difícil é relacionar todas essas coisas fazendo uma integração, produzindo algo, respondendo algo, transformando algo. Um dia eu ouvi que ruim ser uma pessoa multi, na hora eu fiquei chateada, descordante e incomodada! Como assim não posso ser multi? Como assim é ruim ser multi? Hoje, pensando sobre outra ótica eu concordo com essa afirmação desde que seja para dizer que bom é interdisciplinar, bom é relacionar, integrar, misturar

Gosto de pensar que vou poder pegar toda a paixão pela Nutrição que me foi mostrada pelas professorasPatologia e Fundamentos da dietoterapia e juntar com os mistérios da Semiótica, as contextualizações históricas de Brasil e RS: Cenários Sociais e o dinamismo de Processos Grupais, reunindo tudo dentro da minha mente e ao liquidificar com toda a bagagem que eu já tenho e ver no que vai dar não só ao final do semestre como na minha vida. Claro! Não podemos ficar divagando na superficialidade das áreas de conhecimento, isso é um fato. Eu preciso/devo sair da graduação sendo uma boa nutricionista, exercendo bem minhas funções como profissional "de saúde, que, atendendo aos princípios da ciência da Nutrição, tem como função contribuir para a saúde dos indivíduos e da coletividade. Ao nutricionista cabe a produção do conhecimento sobre a Alimentação e a Nutrição nas diversas áreas de atuação profissional, buscando continuamente o aperfeiçoamento técnico-científico, pautando-se nos princípios éticos que regem a prática científica e a profissão.". Não fui eu quem escreveu tão bem essas palavras sobre o profissional nutricionista, isto consta no código de ética da profissão. Como contribuir para a saúde dos indivíduos e da coletividade? A graduação mostra alguns caminhos, não todos, cada colega deve escolher por qual placa de orientação vai seguir, o primordial é não se deixar engessar e buscar sempre novas realidades mesmo nos cenários já conhecidos.

Pra mim é triste pensar em um mundo sem cooperação, sem empatia com o próximo. É difícil pra mim entrar em uma sala de aula sem perguntar quem são as pessoas que passarão no mínimo 20 noites ao meu lado. É triste pensar que muitas vezes eu entro e saio de uma sala de aula e não interajo com absolutamente ninguém, simplesmente chego, sento, escuto, escuto e escuto mais um pouquinho e vou embora levando algumas informações dentro de mim que podem daqui há algum tempo (talvez no máximo até o período de provas) cair no mar do esquecimento. Do que adianta serem criadas disciplinas multidisciplinares, onde vários cursos podem estar juntos com o mesmo professor, se não há uma inter-relação entre os cursos, eu entro e saio e ninguém fica sabendo o que a nutrição pensa sobre os temas abordados na aula. Essa dinâmica mecânica extrapola os muros das universidades fazendo com que sejamos multi em um mundo que que é inter, basta observar a natureza e perceber como tudo se relaciona, há uma sinergia que em algum momento desaprendemos. É por isso que eu tenho me permitido abrir espaço para o novo e não somente oportunizar que simplesmente esteja em mim como se eu fosse um depósito, mas que seja dinâmico e contínuo como um rio que por mais que pareça igual é diferente, mutável e transparente. 

"É pau, é pedra, é o fim do caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho, é um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã, é um belo horizonte, é uma febre terçã [...] São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração". 

É a vida maluca cheia de coisas para viver e que triste seria se não pudéssemos mesclar para ver o resultado. São as águas de interdisciplinaridade construindo minha formação, uma esperança de vida no meu coração. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O que vive dentro de nós

Por um acaso ou desatenção minha, hoje é um dia livre pra mim esse semestre, sem aula, sem reuniões, pelo menos por enquanto. Fiquei feliz de poder ficar em casa "all day" de pijamas e pantufas! o/ Engana-se quem pensa que fiquei de "papo para o ar", meu quarto estava esperando ardentemente por uma visita em caráter de faxina e bom, depois de algumas boas horas venci a bagunça acumulada ao longo do semestre passado (pasmem! ou não... :P). No meio da arrumação encontrei um registro do VER-SUS verão deste ano de um colega querido, não sei dizer como ele estava nas minhas coisas, mas alegrou minha tarde essa leitura! Compartilho aqui já que ao ler percebi que inúmeras são as situações em que essa reflexão se encaixa dentro de mim.

Dizem que a vida tem fim...
Algumas coisas nela não acabam
Temos perdas sim é verdade,
mas existem coisas que ganhamos que se eternizam.
Os gestos e as palavras de carinho, 
O beijo, o toque, o colo,
O amor e a alegria gerada
por laços que não tem fim
Para sempre irão nos acompanhar!
Nem tudo neste momento é dor
Lembre que: se existe dor é porque muita coisa boa ficou.
Nunca imaginamos que amaríamos tanto
Nem mesmo na infância
Terra fértil de sonhos
Tempos passados que na lembrança
ainda vivem, e assim, se fazem presente.
Muita coisa ficou e com carinho
iremos lembrar!

Jonas Hendler da Paz

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um pouco de Cecília


Alheias  e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores, as palavras voam
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos como negros abutres, as palavras voam.

Oh! alto e baixo em círculos e retas acima de nós,
em redor de nós as palavras voam.
E às vezes pousam.
Voo - Meireles, 1984

domingo, 4 de agosto de 2013

Era só uma legenda...

Oi gente!

Hoje não era um dia em que eu estava esperando escrever aqui. Queria simplesmente dar uma olhada rápida no meu facebook antes de dormir para então viver o último dia de férias. Nossa, essa frase ficou um tanto dramática, mas essa é a mais pura verdade, uma passada rápida pela "vida virtual" que está me rendendo mais esse registro. Entre um curtir, outro compartilhar e umas conversinhas bobas resolvo postar uma foto, não pela foto em si, mas pelo que gostaria de escrever na legenda da foto... bom, não preciso dizer que uma frase gerou outra frase, que gerou um parágrafo, que lembrou uma música e como não podia colocar tudo isso em uma legenda de foto vim para minha colcha de retalhos que dá mais liberdade de mesclar as ideias. 


Entrei no VER-SUS porque um dia uma professora me disse que tinha perfil. Perfil de quê? Perfil pra quem? Perfil por quê? Sei que minha professora não quis ser pejorativa quando disse isso, muitas pessoas usam essa palavra todos os dias para explicar muita coisa, de qualquer forma eu não gosto muito dela, não sei bem dizer porque, quando penso nela relaciono-a com "categoria", "caixinha", ex/includente de algo por possuir ou não competências para executar uma ação. Muitos sentimentos, projetos, expectativas. histórias e vivências me formam como pessoa e tudo o que eu já vivi até agora é diferente do que todas as demais pessoas no mundo viveram, isso faz de mim e delas sujeitos únicos nesse mundo. Sei que não é anormal da minha parte falar de unicidade, mas procuro considerar esse fator de suma importância para (tentar) entender o desenrolar dos processos na vida, seja perto ou longe de mim. 

Quando entrei por esse projeto conheci pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas comigo, uma realidade que tem me paralisado. A cada contato as minhas diferenças se colidem com as demais, assim como as semelhanças, gerando inúmeros questionamentos. Até certo ponto era compreensível pra mim aceitar as diferenças, porém pensar nas diferenças dos outros em "harmonia" com as minhas semelhanças é algo confuso e conflitante. Essa mistura toda reafirma o meu estranhamento com relação ao uso da palavra "perfil" porque até mesmo as semelhanças existentes entre as diversas pessoas que fizeram e fazer VER-SUS comigo _sendo no espaço que for_ estão em proporções e intensidades diferentes entre si, como definir um padrão? Como estabelecer um equilíbrio, um caminho comum entre "onde estamos" e "para onde vamos"? QUE COISA MALUCA! 

Tenho consciência de que não encontrarei as respostas para os meus questionamentos num passe de mágica e que muita reflexão será necessária para desvendar quem sabe um deles. E a pergunta que não se cala: o que me faz ter perfil para estar no VER-SUS? E não somente nesse projeto, mas em todas as demais situações nas quais estive e estou inserida, o que me faz ser assim? Minha fé? Meus valores? Minha família? Amigos? Medos? Expectativas? Meus (des)encontros com as pessoas e com a vida? A mistura de tudo? A falta de alguma coisa? Interrogações não faltam só nesses parágrafos...

Talvez as minhas motivações para permanecer nesses espaços expliquem porque eu entrei neles, e para não me prolongar nesse sentido deixo o trecho de uma canção: 

"Começou como um sentimento
Que depois se transformou em uma esperança
Que se tornou então um pensamento quieto
Que se tornou então uma palavra quieta
E então essa palavra ficou cada vez mais alta
Até que se tornou um grito de guerra"
The call - Regina Spektor

Era só uma legenda, pra dizer o quão feliz eu estava de realmente ter criado amigos nesse projeto. Amigos que mesmo não me entendendo (quem me entende mesmo?) consegue tirar um sorriso sincero dos meus lábios; conhecem sonhar ideais parecidos com os meus mesmo que com caminhos diferentes; conhecem ir juntando as peças necessárias para construção; senão de um mundo, de uma realidade melhor para além de desejos individuais, para uma coletividade futura. Não quero com essa postagem desmerecer aqueles que até então fazem parte da minha vida, impossível negar o passado pois é ele quem me constitui, tenho muito carinho e apresso por isso, mas alegro-me com as novidades que se apresentam e espero conseguir mesclar tudo de maneira a conseguir colorir mais os meus dias, minhas histórias, construções e realidades. 

Era só uma legenda, para tentar registrar que apesar do cansaço esse esforço me faz bem, é uma parte concreta de um sonho por vezes bem distante, mas a cada bom momento como esses 12 dias torna-se um pouquinho mais possível. 

Era só uma legenda, para tentar agradecer a cada pessoa que fez e faz esses espaços possíveis, seja aqui em Porto Alegre ou lá longe na Itália. 

Era só uma legenda que pudesse transmitir os sentimentos que fervem dentro de mim e transbordam, as vezes em ações, outras em palavras, outras em lágrimas.

Era só uma legenda para dizer que cabe tudo isso e muito mais no meu coração.

Era só uma legenda para dizer: "PREPARA! Que agora é hora de começar a vivência..."

Era só uma legenda para dizer que saúde é a capacidade de gerar vida, uma capacidade intrínseca em cada ser humano: gente que gosta de gente, gente que se importa com gente, gente que é gente!

Era só uma legenda, era só.

domingo, 14 de julho de 2013

Paciência histórica

Isso pode ser óbvio para muitas pessoas, mas a vida é feita de processos. A todo o momento acontecimentos se desenrolam (re)criando a história da humanidade. A primeira vez que ouvi essa expressão foi na minha participação do projeto VER-SUS em uma gramado ensolarado de uma tarde de sábado. O que fez todo o sentido pra mim, uma das coisas que sempre falei é que precisamos respeitar os tempos de cada pessoa ou situação. Eu consigo entender e aguardar o desenvolvimento de uma flor, consigo esperar o tempo necessário para criar uma criança para que ela seja "uma pessoa de bem", consigo entender e tentar fazer parte de imenso processo que é trabalhar por uma saúde melhor a partir da qualificação do SUS. Não é difícil pra mim entender Salamão ao dizer que "há tempo para todo propósito de baixo do céu", sabe o que é difícil pra mim? Enquadrar toda essa compreensão na minha vida.

Não é estranho? Não cobrar dos outros um retorno rápido dos processos e ao mesmo tempo ser impiedosa com os tempos para mim mesma. Eu consigo entender o valor de um vínculo criado entre moradores de rua e profissionais do Consultório na Rua, mas não consigo dar valor as horas de sono que posso ter ou não nas noites da semana. Já me martirizei muito por não cumprir prazos que eu mesma estabeleci ou não não ter o tempo que queria para realizar os planos que eu achava coerente. Ter calma, sim eu tinha com tudo, menos comigo. E por mais louco que possa parecer somente a pouco tempo me dei conta disso...

Preciso aprender a ter uma paciência histórica comigo mesma e deixar que minhas ações, projetos e sonhos formem um bom caminho a seguir. Sem atropelos, sem enlouquecimento, mesmo que não seja simples, mas que seja meu e tenha o seu tempo. Enfim... sem muitas palavras, hora de refletir.

 Há esperança, um dia eu aprendo. ;)

"...tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de gurra e tempo de paz." [Eclasiastes 3: 7-8]


sábado, 13 de julho de 2013

Nutrição, sua linda! - Clarís Cozinha Artesanal

Essa semana meu semestre finalmente terminou. Faz parte da minha rotina não ter rotina, horários malucos e eventos marcados no mesmo horário, mesmo com uma agenda, não consigo ainda trabalhar com ela, espero que um dia eu aprenda (risos...). Dentro dessa loucura que é o meu semestre havia um momento fixo, divertido e leve onde eu estava todas as manhãs: Clarís - Cozinha Artesanal, essa foi a porta que me abriram para realizar o estágio obrigatório de Administração de Unidade de Nutrição.

Ontem, terminei meu ciclo de aprendizagem/trabalho nesse espaço que vai deixar boas lembranças em mim. Não há dúvidas que aprendi muito com cada colega que forma essa equipe de trabalho, eles realmente sabem o que é trabalho em equipe e por mais que as tarefas num olhar mais macro sejam sempre as mesmas, cada dia tem a sua peculiaridade a ser vivida, cada dia com a sua dinâmica própria e sua trilha sonora! Sim, não importa onde você esteja, se na cozinha, copa ou escritório sempre está a disposição uma música a ser ouvida e dos mais diversos gêneros musicais. Não sei se as pessoas que lá trabalham consegue perceber, mas há uma leveza singular em fazer parte do Clarís.


Falando um pouquinho sobre a nutrição nesse espaço. É um viés interessante para aquelas pessoas que tem o pé na administração de empresas ou tem um carinho especial por gastronomia. A nutricionista que escolher pelo caminho das refeições coletivas em restaurantes tem que ter criatividade para elaboração de cardápio, bem como uma noção prévia de que nem sempre você vai poder estar na cozinha, em contato com os alimentos, se esse é um desejo latente. Não, nutricionista não é sinônimo de ser cozinheira, mas como uma professora muito querida nos falou certa vez: "qual o problema em ser?". Existe um prazer intrínseco no ato de cozinhar para aqueles que tem esse hábito e juntar isso com preocupação nutricional e beleza/técnicas gastronômicas é algo super legal. Minha (ex)chefe, Clarissa, é uma pessoa assim: que ama cozinhar, está um pouco distante disso em função das MUITAS atividades administrativas a serem feitas todos os dias no restaurante. De qualquer forma, sempre que pode está lá com sua touquinha e jaleco ajudando, experimentando, sugerindo. Ela treina a estagiária, observa o ponto, conversa com os fornecedores, entra em contato com a empresa de divulgação, esclarece dúvidas de cliente para eventos e ainda assim às 11:30 está lá na porta sorridente aguardando os clientes para o almoço. 

Vale a pena abrir um tempinho para ir almoçar no Clarís. No trajeto de se servir no buffet, lembre da equipe da cozinha que todos os dias está cedinho combinando os ingredientes, acrescentando temperos que darão um sabor especial ao seu almoço. Lembre-se do ambiente diferente que foi pensando e organizado pelos rapazes da copa, do guardanapo dobrado ao clima do ar condicionado. Fique tranquilo, a maioria dos ingredientes utilizados no cardápio são orgânicos, ou seja, menos agrotóxicos e mais saúde no seu dia! Além disso, existe lá uma estagiária chata verificando se está tudo higienizado, organizado, seguro, sem possíveis problemas de contaminação. 

Confesso que não estava entusiasmada para entrar nesse semestre. Minhas férias foram cheias de incertezas e demorei até conseguir um estágio, pensei em trancar a disciplina, pensei em parar tudo, pensei em virar hippie (ainda penso as vezes...). Ao longo dos dias as coisas foram se ajeitando e louvo a Deus que tudo deu certo no final. Não adianta, ansiedade está em mim, preciso aprender a me tranquilizar e deixar que as coisas aconteçam e avida se desenrole, afinal estou na caminhada, não para e isso faz toda a diferença. Deixo o meu abraço a todos que me receberam com tanto carinho neste restaurante. Obrigada pelas dicas, orientações e incentivos. Saio feliz com o período de aprendizagens, saio com saudades das manhãs musicais e cheias de tarefas, afinal tem que "se virar nos 30" para deixar tudo perfeito para abertura às 11:30. 

Vocês são uns queridos! Vão ficar na minha história. =]

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Por uma saúde para/com/de todos

Se tem uma coisa que eu não suporto é briga, acredito que poucas pessoas apreciem esse hábito, de qualquer forma é interessante salientar isso. Briga, violência não leva ninguém a nada, retira a razão de tudo. Digo isso porque fico pensando em como está o clima entre os diversos profissionais de saúde espalhados pelos serviço de saúde do país com todos esses acontecimentos em relação aos médicos e a saúde do nosso país. Como futura profissional da saúde não estou aleatória as notícias em torno desse assunto, tampouco devo me manter neutra ou em silêncio com tudo o que tenho visto, ouvido e lido. Pra começar, vamos assistir a propaganda da mais nova iniciativa do Ministério da Saúde:


A criação do Sistema Único de Saúde - SUS, foi um marco no país por inúmeros motivos, vou citar alguns: conquista social - foi um projeto pensando, escrito e exigido por muitas pessoas por um longo período de tempo; diretrizes que preconizam uma saúde disponível e acessível a todos de forma integral e universal; um direito a ser vivido por todos os brasileiros. Esse processo teve início a partir de 1988, quando a saúde virou direito de todos e dever do Estado na constituição, seguiu até 1990, quando ganhou uma lei orgânica própria: 8080/90. Falar de SUS é falar de um pensamento diferente de saúde, pelo menos do que vinha sendo apresentado até então. 

O índios tinham (e tem) uma forma de pensar e fazer saúde, assim como outros povos desenvolveram seus métodos e formas de tratar enfermidades. A ciência, através de seus métodos científicos foi se desenvolvendo e com a medicina não seria diferente. Não quero me perder muito na história, mas antigamente saúde era pensado estritamente como ausência de doença, você é uma pessoa saudável se não está doente. Por muitos anos no Brasil esse era o pensamento, tanto que o acesso a medicina convencional, ou seja, aos médicos era algo caro, para poucos. O Brasil foi se industrializando e bom era preciso mão de obra sadia para trabalhar e gerar dinheiro, vamos "dar saúde" a esse povo para que possam trabalhar, então com a inspiração de um país ai, vieram os grandes centros hospitalares e o acesso a esses serviços aqueles que possuíam carteira de trabalho assinada. As outras pessoas tinham as freiras com suas casas de misericórdia ou curandeiras para tratar suas doenças, saneamento básico? Lazer? Cultura? Quem precisa disso? 

Dentro desse contexto: "saúde = não ter doenças", entendo perfeitamente a super valorização de uma profissão de concentra seu núcleo de saber no tratamento de doenças. Mas quando vamos analisar  conceito de saúde a partir de uma outra posição, faz-se necessário pensar em formas de suprir as demandas criadas. Segundo a Constituição da Organização Mundial da Saúde: "A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade." Muitos conhecem essa frase, talvez ela seja clichê, mas ai eu gostaria de citar a continuação desse pensamento, que deveria ser tão divulgado quanto o seu início: "Gozar do melhor estado de saúde que é possível atingir constitui um dos direitos fundamentais de todo o ser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de condição econômica ou social. A saúde de todos os povos é essencial para conseguir a paz e a segurança e depende da mais estreita cooperação dos indivíduos e dos Estados. Os resultados conseguidos por cada Estado na promoção e proteção da saúde são de valor para todos." Vejo muito do SUS nisso, apesar dos entraves desse sistema temos alcançados muitos avanços na saúde. Que entraves são esses? Falta de intenção política, interesses econômicos, ignorância da maior parte da sociedade civil; corporativismo de profissões, distorção dos meios de comunicação... cada um deles com muito combustível para conversa.

A grande questão é que esse "novo" (1946) conceito de saúde amplia as possibilidades de atuação para garantir esse estado de bem estar as pessoas. O foco não é mais a doença, mas a pessoa; não é mais uma parte do corpo, mas um indivíduo, e também não mais somente um indivíduo, mas é um contexto social, é algo coletivo, um bem estar comum que faz bem a todos. Isso é um processo, que vem andando, não consigo mensurar uma velocidade, mas esse movimento tem acontecido através das políticas públicas em saúde nas mais diversas temáticas. Muitas coisas vem mudando, mas isso descarta a hipótese das pessoas ficarem doentes? Não. Traz a ideia de que não existe a necessidade de médicos? Tampouco! Vejo ai a grande questão, onde está a estreita cooperação dos indivíduos (profissionais da saúde) para garantir esse direito essencial de todo o ser humano?

Sinceramente, não percebo isso com o Ato Médico, no formato de lei, maior que as outras regulações das demais profissões, como também não percebo isso nesse novo programa do Ministério da Saúde "Mais médicos". Não descarto nem nunca descartarei a importância do médico nos processos de trabalho que envolvem a saúde e produção desta, seria incoerência e burrice da minha parte expressar qualquer tipo de opinião nesse sentido. O que é incabido no contexto onde estamos vivendo, com diversos pensadores debatendo e afirmando a eficácia da multi e interdisciplinaridade em saúde, da ampliação da atenção primária em saúde, da proximidade com as pessoas e numa conduta de trabalho regrada pela amorosidade e empatia permanecer nessa super valorização médica, nesse pensamento centrado em um único profissional. Isso eu sou contra e sempre serei. 

Sabemos que existem exceções, mas pra mim o MS esta pagando um papel ridículo mendigando médicos que não estão abertos ao SUS. Mais uma ação que desvaloriza os demais profissionais de saúde e centraliza a saúde no saber biomédico. As pessoas estão confundindo muito as coisas. Acho que precisam ler Gastão quando escreve sobre campo e núcleo. Ninguém quer invadir as competências do médico. Ninguém quer intervir no trabalho de um profissional que é sim indispensável para o diagnóstico e tratamento de doenças e promoção e prevenção, bem como TODOS os demais núcleos do campo da saúde. Nenhum médico cubano (e daí entramos em outro assunto vigente, a vinda de médicos estrangeiros) vai vir para o brasil ser referência em cirurgia cardiovascular no HCPA, eles virão para trabalhar na unidade de família na Vila Boazinha aqui perto de casa ou lá na cidade distante, Santa Queridinha, no interior do Estado porque são poucos os que querem atuar nesses muitos espaços necessitados. Até onde eu sei, nenhum enfermeiro está pedindo para tratar pacientes com câncer ou retocolite. O melhor seria que os médicos se unissem aos demais profissionais de saúde e vise e versa, o melhor seria que o Ministério da Saúde fosse coerente com suas ações para ampliação da saúde no país. TODOS precisam de estrutura para trabalhar e enquanto a massa médica se recusa a trabalhar por isso, muitos profissionais seguem suando, se virando e recebendo 5, 8, 10 vezes menos entre outros benefícios... 10 mil reais mensais de remuneração, especialização em universidade pública, isso é esmola? Fora o fato de dizer que com esse projeto estaremos levando mais saúde à população brasileira. Se eles estiverem nas estratégias de saúde da família trabalhando com prevenção e promoção até concordo, caso contrário essa expressão está sendo usada de uma forma, no mínimo antiquada/limitada! 

Eu fico me perguntando o porquê de tudo isso, consigo perceber que é uma marca histórica a sociedade, como o Presidente do Conselho de Medicina afirmou: "a população quer ser atendida por médicos", ok, eles querem, mas eles sabem que existem outras opções, outras formas de trabalho. Perguntaram para os médicos se eles querem atender essa população que julga que esse profissional é a única solução já que por anos a saúde era resumida a uma receita médica dentro de um consultório ou numa sala de cirurgia. Não estou com isso querendo desmerecer hospitais, consultórios ou o que quer que seja, mas isso é um fato, não podemos ficar só com isso, já não surte o feito esperado, já não supri a demanda, saúde não é mais só ausência de doença.

Finalizo com dois questionamentos: não há estrutura para médicos trabalharem? Também não há para os demais profissionais da saúde: fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, agentes comunitários, todos tem sofrido com as precariedades dos serviços de saúde e má gestão dos recursos ofertados. Querem aumentar 2 anos de formação na medicina para saúde pública? Coloca esse pessoal a fazer VER-SUS, a participar de coletivos estudantis como o Elos, o qual eu faço parte e uma amiga muito querida do curso de medicina. Gente, existem dispositivos para qualificar a formação de estudantes da saúde, basta olhar pro lado. Que os médicos somem aos outros profissionais por valorização de salários, por melhor condições de trabalho e estrutura para TODOS, afinal a saúde é para todos com a ação de todos.