domingo, 14 de julho de 2013

Paciência histórica

Isso pode ser óbvio para muitas pessoas, mas a vida é feita de processos. A todo o momento acontecimentos se desenrolam (re)criando a história da humanidade. A primeira vez que ouvi essa expressão foi na minha participação do projeto VER-SUS em uma gramado ensolarado de uma tarde de sábado. O que fez todo o sentido pra mim, uma das coisas que sempre falei é que precisamos respeitar os tempos de cada pessoa ou situação. Eu consigo entender e aguardar o desenvolvimento de uma flor, consigo esperar o tempo necessário para criar uma criança para que ela seja "uma pessoa de bem", consigo entender e tentar fazer parte de imenso processo que é trabalhar por uma saúde melhor a partir da qualificação do SUS. Não é difícil pra mim entender Salamão ao dizer que "há tempo para todo propósito de baixo do céu", sabe o que é difícil pra mim? Enquadrar toda essa compreensão na minha vida.

Não é estranho? Não cobrar dos outros um retorno rápido dos processos e ao mesmo tempo ser impiedosa com os tempos para mim mesma. Eu consigo entender o valor de um vínculo criado entre moradores de rua e profissionais do Consultório na Rua, mas não consigo dar valor as horas de sono que posso ter ou não nas noites da semana. Já me martirizei muito por não cumprir prazos que eu mesma estabeleci ou não não ter o tempo que queria para realizar os planos que eu achava coerente. Ter calma, sim eu tinha com tudo, menos comigo. E por mais louco que possa parecer somente a pouco tempo me dei conta disso...

Preciso aprender a ter uma paciência histórica comigo mesma e deixar que minhas ações, projetos e sonhos formem um bom caminho a seguir. Sem atropelos, sem enlouquecimento, mesmo que não seja simples, mas que seja meu e tenha o seu tempo. Enfim... sem muitas palavras, hora de refletir.

 Há esperança, um dia eu aprendo. ;)

"...tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de gurra e tempo de paz." [Eclasiastes 3: 7-8]


sábado, 13 de julho de 2013

Nutrição, sua linda! - Clarís Cozinha Artesanal

Essa semana meu semestre finalmente terminou. Faz parte da minha rotina não ter rotina, horários malucos e eventos marcados no mesmo horário, mesmo com uma agenda, não consigo ainda trabalhar com ela, espero que um dia eu aprenda (risos...). Dentro dessa loucura que é o meu semestre havia um momento fixo, divertido e leve onde eu estava todas as manhãs: Clarís - Cozinha Artesanal, essa foi a porta que me abriram para realizar o estágio obrigatório de Administração de Unidade de Nutrição.

Ontem, terminei meu ciclo de aprendizagem/trabalho nesse espaço que vai deixar boas lembranças em mim. Não há dúvidas que aprendi muito com cada colega que forma essa equipe de trabalho, eles realmente sabem o que é trabalho em equipe e por mais que as tarefas num olhar mais macro sejam sempre as mesmas, cada dia tem a sua peculiaridade a ser vivida, cada dia com a sua dinâmica própria e sua trilha sonora! Sim, não importa onde você esteja, se na cozinha, copa ou escritório sempre está a disposição uma música a ser ouvida e dos mais diversos gêneros musicais. Não sei se as pessoas que lá trabalham consegue perceber, mas há uma leveza singular em fazer parte do Clarís.


Falando um pouquinho sobre a nutrição nesse espaço. É um viés interessante para aquelas pessoas que tem o pé na administração de empresas ou tem um carinho especial por gastronomia. A nutricionista que escolher pelo caminho das refeições coletivas em restaurantes tem que ter criatividade para elaboração de cardápio, bem como uma noção prévia de que nem sempre você vai poder estar na cozinha, em contato com os alimentos, se esse é um desejo latente. Não, nutricionista não é sinônimo de ser cozinheira, mas como uma professora muito querida nos falou certa vez: "qual o problema em ser?". Existe um prazer intrínseco no ato de cozinhar para aqueles que tem esse hábito e juntar isso com preocupação nutricional e beleza/técnicas gastronômicas é algo super legal. Minha (ex)chefe, Clarissa, é uma pessoa assim: que ama cozinhar, está um pouco distante disso em função das MUITAS atividades administrativas a serem feitas todos os dias no restaurante. De qualquer forma, sempre que pode está lá com sua touquinha e jaleco ajudando, experimentando, sugerindo. Ela treina a estagiária, observa o ponto, conversa com os fornecedores, entra em contato com a empresa de divulgação, esclarece dúvidas de cliente para eventos e ainda assim às 11:30 está lá na porta sorridente aguardando os clientes para o almoço. 

Vale a pena abrir um tempinho para ir almoçar no Clarís. No trajeto de se servir no buffet, lembre da equipe da cozinha que todos os dias está cedinho combinando os ingredientes, acrescentando temperos que darão um sabor especial ao seu almoço. Lembre-se do ambiente diferente que foi pensando e organizado pelos rapazes da copa, do guardanapo dobrado ao clima do ar condicionado. Fique tranquilo, a maioria dos ingredientes utilizados no cardápio são orgânicos, ou seja, menos agrotóxicos e mais saúde no seu dia! Além disso, existe lá uma estagiária chata verificando se está tudo higienizado, organizado, seguro, sem possíveis problemas de contaminação. 

Confesso que não estava entusiasmada para entrar nesse semestre. Minhas férias foram cheias de incertezas e demorei até conseguir um estágio, pensei em trancar a disciplina, pensei em parar tudo, pensei em virar hippie (ainda penso as vezes...). Ao longo dos dias as coisas foram se ajeitando e louvo a Deus que tudo deu certo no final. Não adianta, ansiedade está em mim, preciso aprender a me tranquilizar e deixar que as coisas aconteçam e avida se desenrole, afinal estou na caminhada, não para e isso faz toda a diferença. Deixo o meu abraço a todos que me receberam com tanto carinho neste restaurante. Obrigada pelas dicas, orientações e incentivos. Saio feliz com o período de aprendizagens, saio com saudades das manhãs musicais e cheias de tarefas, afinal tem que "se virar nos 30" para deixar tudo perfeito para abertura às 11:30. 

Vocês são uns queridos! Vão ficar na minha história. =]

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Por uma saúde para/com/de todos

Se tem uma coisa que eu não suporto é briga, acredito que poucas pessoas apreciem esse hábito, de qualquer forma é interessante salientar isso. Briga, violência não leva ninguém a nada, retira a razão de tudo. Digo isso porque fico pensando em como está o clima entre os diversos profissionais de saúde espalhados pelos serviço de saúde do país com todos esses acontecimentos em relação aos médicos e a saúde do nosso país. Como futura profissional da saúde não estou aleatória as notícias em torno desse assunto, tampouco devo me manter neutra ou em silêncio com tudo o que tenho visto, ouvido e lido. Pra começar, vamos assistir a propaganda da mais nova iniciativa do Ministério da Saúde:


A criação do Sistema Único de Saúde - SUS, foi um marco no país por inúmeros motivos, vou citar alguns: conquista social - foi um projeto pensando, escrito e exigido por muitas pessoas por um longo período de tempo; diretrizes que preconizam uma saúde disponível e acessível a todos de forma integral e universal; um direito a ser vivido por todos os brasileiros. Esse processo teve início a partir de 1988, quando a saúde virou direito de todos e dever do Estado na constituição, seguiu até 1990, quando ganhou uma lei orgânica própria: 8080/90. Falar de SUS é falar de um pensamento diferente de saúde, pelo menos do que vinha sendo apresentado até então. 

O índios tinham (e tem) uma forma de pensar e fazer saúde, assim como outros povos desenvolveram seus métodos e formas de tratar enfermidades. A ciência, através de seus métodos científicos foi se desenvolvendo e com a medicina não seria diferente. Não quero me perder muito na história, mas antigamente saúde era pensado estritamente como ausência de doença, você é uma pessoa saudável se não está doente. Por muitos anos no Brasil esse era o pensamento, tanto que o acesso a medicina convencional, ou seja, aos médicos era algo caro, para poucos. O Brasil foi se industrializando e bom era preciso mão de obra sadia para trabalhar e gerar dinheiro, vamos "dar saúde" a esse povo para que possam trabalhar, então com a inspiração de um país ai, vieram os grandes centros hospitalares e o acesso a esses serviços aqueles que possuíam carteira de trabalho assinada. As outras pessoas tinham as freiras com suas casas de misericórdia ou curandeiras para tratar suas doenças, saneamento básico? Lazer? Cultura? Quem precisa disso? 

Dentro desse contexto: "saúde = não ter doenças", entendo perfeitamente a super valorização de uma profissão de concentra seu núcleo de saber no tratamento de doenças. Mas quando vamos analisar  conceito de saúde a partir de uma outra posição, faz-se necessário pensar em formas de suprir as demandas criadas. Segundo a Constituição da Organização Mundial da Saúde: "A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade." Muitos conhecem essa frase, talvez ela seja clichê, mas ai eu gostaria de citar a continuação desse pensamento, que deveria ser tão divulgado quanto o seu início: "Gozar do melhor estado de saúde que é possível atingir constitui um dos direitos fundamentais de todo o ser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de condição econômica ou social. A saúde de todos os povos é essencial para conseguir a paz e a segurança e depende da mais estreita cooperação dos indivíduos e dos Estados. Os resultados conseguidos por cada Estado na promoção e proteção da saúde são de valor para todos." Vejo muito do SUS nisso, apesar dos entraves desse sistema temos alcançados muitos avanços na saúde. Que entraves são esses? Falta de intenção política, interesses econômicos, ignorância da maior parte da sociedade civil; corporativismo de profissões, distorção dos meios de comunicação... cada um deles com muito combustível para conversa.

A grande questão é que esse "novo" (1946) conceito de saúde amplia as possibilidades de atuação para garantir esse estado de bem estar as pessoas. O foco não é mais a doença, mas a pessoa; não é mais uma parte do corpo, mas um indivíduo, e também não mais somente um indivíduo, mas é um contexto social, é algo coletivo, um bem estar comum que faz bem a todos. Isso é um processo, que vem andando, não consigo mensurar uma velocidade, mas esse movimento tem acontecido através das políticas públicas em saúde nas mais diversas temáticas. Muitas coisas vem mudando, mas isso descarta a hipótese das pessoas ficarem doentes? Não. Traz a ideia de que não existe a necessidade de médicos? Tampouco! Vejo ai a grande questão, onde está a estreita cooperação dos indivíduos (profissionais da saúde) para garantir esse direito essencial de todo o ser humano?

Sinceramente, não percebo isso com o Ato Médico, no formato de lei, maior que as outras regulações das demais profissões, como também não percebo isso nesse novo programa do Ministério da Saúde "Mais médicos". Não descarto nem nunca descartarei a importância do médico nos processos de trabalho que envolvem a saúde e produção desta, seria incoerência e burrice da minha parte expressar qualquer tipo de opinião nesse sentido. O que é incabido no contexto onde estamos vivendo, com diversos pensadores debatendo e afirmando a eficácia da multi e interdisciplinaridade em saúde, da ampliação da atenção primária em saúde, da proximidade com as pessoas e numa conduta de trabalho regrada pela amorosidade e empatia permanecer nessa super valorização médica, nesse pensamento centrado em um único profissional. Isso eu sou contra e sempre serei. 

Sabemos que existem exceções, mas pra mim o MS esta pagando um papel ridículo mendigando médicos que não estão abertos ao SUS. Mais uma ação que desvaloriza os demais profissionais de saúde e centraliza a saúde no saber biomédico. As pessoas estão confundindo muito as coisas. Acho que precisam ler Gastão quando escreve sobre campo e núcleo. Ninguém quer invadir as competências do médico. Ninguém quer intervir no trabalho de um profissional que é sim indispensável para o diagnóstico e tratamento de doenças e promoção e prevenção, bem como TODOS os demais núcleos do campo da saúde. Nenhum médico cubano (e daí entramos em outro assunto vigente, a vinda de médicos estrangeiros) vai vir para o brasil ser referência em cirurgia cardiovascular no HCPA, eles virão para trabalhar na unidade de família na Vila Boazinha aqui perto de casa ou lá na cidade distante, Santa Queridinha, no interior do Estado porque são poucos os que querem atuar nesses muitos espaços necessitados. Até onde eu sei, nenhum enfermeiro está pedindo para tratar pacientes com câncer ou retocolite. O melhor seria que os médicos se unissem aos demais profissionais de saúde e vise e versa, o melhor seria que o Ministério da Saúde fosse coerente com suas ações para ampliação da saúde no país. TODOS precisam de estrutura para trabalhar e enquanto a massa médica se recusa a trabalhar por isso, muitos profissionais seguem suando, se virando e recebendo 5, 8, 10 vezes menos entre outros benefícios... 10 mil reais mensais de remuneração, especialização em universidade pública, isso é esmola? Fora o fato de dizer que com esse projeto estaremos levando mais saúde à população brasileira. Se eles estiverem nas estratégias de saúde da família trabalhando com prevenção e promoção até concordo, caso contrário essa expressão está sendo usada de uma forma, no mínimo antiquada/limitada! 

Eu fico me perguntando o porquê de tudo isso, consigo perceber que é uma marca histórica a sociedade, como o Presidente do Conselho de Medicina afirmou: "a população quer ser atendida por médicos", ok, eles querem, mas eles sabem que existem outras opções, outras formas de trabalho. Perguntaram para os médicos se eles querem atender essa população que julga que esse profissional é a única solução já que por anos a saúde era resumida a uma receita médica dentro de um consultório ou numa sala de cirurgia. Não estou com isso querendo desmerecer hospitais, consultórios ou o que quer que seja, mas isso é um fato, não podemos ficar só com isso, já não surte o feito esperado, já não supri a demanda, saúde não é mais só ausência de doença.

Finalizo com dois questionamentos: não há estrutura para médicos trabalharem? Também não há para os demais profissionais da saúde: fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, agentes comunitários, todos tem sofrido com as precariedades dos serviços de saúde e má gestão dos recursos ofertados. Querem aumentar 2 anos de formação na medicina para saúde pública? Coloca esse pessoal a fazer VER-SUS, a participar de coletivos estudantis como o Elos, o qual eu faço parte e uma amiga muito querida do curso de medicina. Gente, existem dispositivos para qualificar a formação de estudantes da saúde, basta olhar pro lado. Que os médicos somem aos outros profissionais por valorização de salários, por melhor condições de trabalho e estrutura para TODOS, afinal a saúde é para todos com a ação de todos.  

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Eu, alienada?

Esse final de semana estava na formação estadual de facilitadores VER-SUS edição inverno 2013. Fazer parte da construção desse estágio de vivência é gratificante e na mesma proporção cansativa, muitas são as demandas para realização desse projeto e para que tudo dê certo são necessários muitos corajosos com corações, mentes, mãos, braços e pernas dispostos e compromissados nesse trabalho, para quem está na organização é uma imersão semestral. Contextualizo isso porque estar nesse final de semana junto com mais umas trinta pessoas que vivem essa realidade a nível estadual é como dito por alguém: "revigorante", esses momentos foram importantes para reorganização interna de tudo que vem acontecendo e se movimento dentro de mim. Tudo isso é uma revolução, que inquieta lá dentro da gente e de alguma forma acaba esparramando para forma. 

Revolução, algo latente nas pessoas com quem conversei esse final de semana. Não somente pela situação do país, como tenho conversado e lido com muitos a história de que "o Gigante acordou" não tem muita credibilidade, se pensarmos que existem há muito tempo muitos movimentos organizados dentro de diversas temáticas sociais que sempre lutaram para que sua voz fosse ouvida, e suas demandas concretizadas. Concordo plenamente com esse pensamento e penso que dizer que tudo vai mudar agora porque alguns saíram para as ruas é desconsiderar um passado de articulações para que o hoje fosse possível, um hoje que mesmo ainda não contemplando todas as reivindicações, é melhor que o ontem. Existe uma soma de inquietações que teve um grande ápice ultimamente, mas que não deve ser menosprezado e/ou categorizado como algo desorganizado e sem identidade. Como já falei em utra postara, acho que falta conhecimento que nos possibilite agir de uma forma mais efetiva e segura, que não nos deixe ser massa de manobra por um grito que aparentemente é bom de ser ouvido. 

O filme "V de vingança" exibido em um dos momentos do final de semana mostra bem a realidade de uma sociedade alienada. Já havia visto esse longa, bem como inúmeras pessoas que se utilizam do figurino do personagem principal do filme para sair nas manifestações que vem acontecendo. O engraçado ou contraditório, não sei muito bem definir essa situação é que por mais conheça muitas pessoas que tem as mesmas inquietações e motivações do que eu ainda sim eu encontro e estou cercada por uma masa de pessoas que descorda fielmente de tudo o que está acontecendo, achando desnecessário e inadequado (para não dizer coisas piores que já ouvi) toda essa movimentação. Que sistema consumidor, que realidade devastadora! Fico sem palavras sabe para descrever a minha admiração com tanta alienação, já cheguei a pensar se essa realidade ilusória estava na minha mente, se eu é que fantasio as coisas e vivo num mudo de impossibilidade, mas ai percebo que não, que isso está no ar e que, infelizmente, tem sido imperceptível por muitos. O pior de tudo é pensar que existem pessoas tão perversas que não são alienadas, pelo contrário, são muito espertas e agem como um combustível para a manutenção desse cenário de manipulação e mentira. 

Essa postagem está meio solta, mas porque minha mente assim está, sem muitas definições e com muitas questões a serem reorganizadas, talvez o final de semestre contribua para esse meu estado, talvez o filme, talvez as notícias, minhas percepções, talvez seja uma coisa ou todas misturadas, mas de alguma forma elas vão encontrar seus espaços dentro de mim. 

Deixo uma música que assim como tudo me deixa pensando, refletindo, revoltando, borbulhando.