domingo, 23 de junho de 2013

Semilla no porongo

Equipe Verão 2012 - POA/GCC
O que estou fazendo acordada a essa hora? Não sei... tive um bom dia, mas mesmo os bons dias podem ser cansativos, ainda mais num Sábado onde meu maior desejo era dormir o dia inteiro! De qualquer forma ainda estou aqui, sentada em frente ao computador e depois de alguns e-mails respondidos, leitura de alguns sites e alguns novidades do facebook (estudar que é bom, nada né?!) lembrei de um blogue que me deixou com saudades de um momento que tem sido bom da minha vida: Semilla no porongo.

Não é novidade para as pessoas que convivem comigo me ouvir falar do VER-SUS, um projeto que caiu de paraquedas no meu colo no verão de 2012 e que até hoje tem sido muito presente nos meus dias, agenda, e-mail, lista telefônica. Já escrevi muito sobre isso, mas não no meu cantinho e hoje vou discorrer um pouco sobre essa proposta que abriu meus olhos para muitos "detalhes" da saúde. 

VER-SUS é uma sigla que significa: Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde, ou seja, é um estágio. O que um estágio? É o exercício supervisionado de uma pessoa com atribuição de uma área qualquer a fim de aprender as responsabilidade de um profissional antes do ingresso efetivo na área. Existem muitas vagas de estágio em todas as áreas possíveis no mercado de trabalho. Bom, mas o VER-SUS é um estágio diferente porque você não vai para um local específico aprender atribuições específicas de uma área, este projeto te convida a fazer mais do que reproduzir algo, ele te convida a viver e a partir dessa experiência dar significado não a um profissional ou uma empresa, mas a um cenário dinâmico e complexo que nos cerca todos os dias: a vida. Um estágio de vivência, em especial o VER-SUS, te convida a conhecer a vida que existe dentro do sistema de saúde brasileiro. 

Inverno 2012 - Sapucaia do Sul
Esse projeto existe porque muitos ouvem falar que existe um sistema de saúde no país, que ele é o único e é bonito somente no papel. Existem muitas pessoas que viveram em uma época onde não existia essa forma de fazer saúde, e mesmo aquelas pessoas mais novas crescem com uma imagem desse sistema bem distorcida. Mesmo os profissionais da área da saúde tem percepções sobre esse sistema que não estão de acordo com a realidade, que menosprezam e desdenham esta proposta de promover saúde à população. O que antes era um "favor" do governo aos trabalhadores com carteira assinada ou das casas de misericórdia para o restante do povo, saúde era sinônimo de não estar doente para poder trabalhar. "Hoje" (20 e poucos anos), saúde é um direito de todos e dever do Estado, "hoje", saúde não é mais pensar em não ficar doente, ela decidiu virar amiga da vida e ver o que dá para produzir com ela de forma cada vez mais qualificada. As instituições de ensinos precisam entrar em sincronia com esses movimentos, formar profissionais que entendam essas modificações e se insiram num contexto de prevenção e promoção de saúde.

Participar desse projeto me deu subsídio para escrever o parágrafo acima, antes do verão de 2012 eu era apenas uma guriazinha que queria ser nutricionista por querer ajudar aos outros e pensava que dentro das áreas da saúde a nutrição era a ciência que mais trabalhava com prevenção e eu não gosto muito de entrar em contato com sangue e assemelhados, fraqueza particular. Bom, não desconsidero esse potencial da nutrição, mas descobri o potencial das demais profissões em saúde, descobri o que era esse SUS "tão" falado/criticado via meios de comunicação e percebi quão pequenos eram os meus pensamentos frente a todo um contexto nacional esperando pela minha atuação. Como eu disse no final da minha primeira vivência: "nasci para o SUS, não quero outra coisa". 

Foram 10 dias em que fiquei alojada com pessoas desconhecidas para aprender sobre outro desconhecido. 10 dias sem a minha cama, sem os meus amigos, 1 entre esses dias, meu aniversário, primeiro que passei longe da minha família. Muitas aprendizagens, muitos choques de realidade, muitas situações que me sacudiam na cadeira, relatos e cenas que vou levar pra sempre comigo. Quantos questionamentos, embates, anseios e dúvidas foram surgindo, eu não deixava ninguém em paz, queria saber o porquê até então eu nunca tinha sido apresentada para tudo isso. "Sempre esteve aqui? Não entendi... Sempre aconteceu assim, e por que não é assado? Pode explicar de novo, eu não entendi. Não acredito que ninguém faz nada, é um absurdo! Não entendi... o quê?... ah... não concordo muito..."

Equipe Verão 2013 - POA/Centro-NEB

No inverno deste ano eu estou indo para minha quarta participação neste projeto, já fui vivente, facilitadora e agora como apoiadora/enlouquecedora etc e tal (risos)... brincadeiras a parte eu não tenho medo em dizer que esse projeto tem mudado meus dias, ele é um despertador/disparador para profissionais que tem interesse na área da saúde como um direito social. O melhor de tudo é que você não precisa ser rico ou fazer cursinho para participar, já que ele não tem custos para os estudantes participantes e não precisa de prova para entrar, basta ter disponibilidade de até 15 dias para estar imerso em uma "nova" (sempre presente mais nebulosa ou invisível para muitos) realidade. Você percebe que é cidadão e como tal tem direitos e deveres, pra mim, o maior de todos os deveres de cada um é trabalhar para a manutenção dos direitos que passam pela saúde, educação, alimentação adequada, habitação, lazer... 

É bom colocar que não sou uma amante cega do Sistema Único de Saúde, as fragilidades são evidentes e não precisa de muito para serem alarmadas mundo a fora para quem quiser ou não ouvir, entretanto, perceber as potencialidades desse sistema, suas construções, intensão e ações já realizadas é algo que me alegra e poder compartilhar isso com outras pessoas é algo que me alegra mais ainda. Sei que as mudanças necessárias vem com investimentos do governo assim como com uma boa gestão dos investimentos já disponíveis. Que é preciso melhores estruturas para os profissionais mas também disposição e criatividade para vencer as dificuldades. Faltam conhecimento por parte de muitos, mas como capilarizar o que de bom já é realizado? Não é só desgraça minha gente, tem muita coisa boa circulando por ai e são essas articulações que precisam ser qualificadas, aprimoradas para um crescimento contínuo com resultados duradouros.

Fiz uma pequena mistura, dei aqui algumas pinceladas da minha primeira vivência (verão 2012), com alguns toques do que tem acontecido, não dá muito para separar muito os fatos já que tem sido uma (des)construção constante. Não entrei em muitos méritos que certamente mereciam destaque, mas ai essa postagem não teria fim! :P Com o tempo vou registrando mais coisas por aqui...  

1 ano e meio de história! o/


Para informações mais "formais" sobre o projeto acesse:

Conheça um pessoal que vai ter o maior prazer de te apresentar essa realidade de amor e coletividade.

Um comentário:

  1. Sua linda!!! Saiba que tu tens um dom: o de escrever coisas lindas, reflexivas, coerentes, comoventes... O de se dedicar de corpo e alma para aquilo em que tu acreditas. O de encantar a todos a tua volta com a tua alegria de viver. O de se superar a cada dia e seguir fazendo mais e mais para que tudo ao teu redor fica mais bonito e colorido. O de ser uma grande amiga de quem não quero me afastar nunca!!! Esse projeto não só abriu meus olhos para ver a saúde de outras maneiras, mas também me deu o privilégio de conhecer essa guria linda, sonhadora e encantadora!!! Obrigada VER-SUS!!! :D

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